terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Cultura agonizante

Não tem graça, o espetáculo da morte em cartaz na 4ª cidade mais violenta do país. É aqui, nas terras de Ipitanga, Lauro de Freitas, que se assiste o infeliz acréscimo do número de homicídios que ceifam principalmente a vida de jovens negros.

O consumo de drogas e entorpecentes em alta, não encontra resistência para agregar novos figurantes, pois a cultura local, uma das principais bases do desenvolvimento social e sustentável deste município está agonizando.

É neste cenário vermelho que vemos o investimento em repressão policial superar o orçamento da cultura. O que se gasta no helicóptero da polícia, que leva pânico e aterroriza as comunidades pobres, daria pra produzir grandes festivais de cultura em toda cidade.

Os recursos do PRONASCI que já serviu para comprar viaturas e equipar a guarda municipal parecem desconhecer o potencial cultural que essa cidade guarda em suas entranhas. Nossa cultura agoniza, está à beira da morte. O pó, que deveria ser usado nos camarins para enfeitar a face dos artistas, adentra as narinas da juventude no inspirar da morte. O pano branco que deveria servir como cortina que se abre para o grande espetáculo da vida, cobre os corpos ensangüentados, furados de bala, jogados no chão de Santo Amaro.

A música, só é ouvida nas missas e cultos religiosos. O microfone que só se ver nas mãos das Margaretes, Danielas e Alciones não chega aos anônimos artistas locais que o substituem por PTs automáticas e trinta e oito.

A cidade cresce pro céu dando espaço a famigerada guerra pelo voto da “Minha Casa, minha Dilma”. As construções podem ser vistas por todos os cantos. Um oceano de concreto e ferro domina a paisagem, enquanto do teto do teatro, localizado na Praça Matriz, vemos os pingos da chuva, que caem como lágrimas chorando a dor da morte.

Vemos o corpo de quem dança se contorcer nas filas de emprego, pois não há orçamento para manter o artista de arte. Vemos a tinta do lápis de olho ser substituída pelo rejunte que tirou a visão do B Boy Valney há duas semanas. Vemos ainda o artista ser substituindo em sala de aula pelo PM bem intencionado. Coisas do PRONASCI que até hoje não apresentou a sociedade a prestação de contas. Onde foi usado esse recurso, afinal de contas?

Nesta cidade se assiste de camarote uma atividade cultural ser cancela por técnicos do governo, porque a ouvidoria municipal comandada por um pastor evangélico, entendeu que atividade cultural atrapalhava o culto dominical.

Essa é a cidade que brinca de cultura. Os personagens culturais são fictícios, as estruturas são cenários removíveis feito de sobra de material. As produções e ações culturais são meras encenações e os recursos são elementos de um show de ilusionismo.

Até as ações políticas tem ares circenses. Imaginem senhoras e senhores que o conselho de cultura é presidido, depois de um golpe institucional, pelo artista-coronel mór.

Em fim, eu, mero espectador escrevo do computador de uma associação cultural, mas fico por aqui, pois a luz está cortada e o “gato de energia” que vem da vizinha já vai ser desligado.

Ricardo Andrade
Produtor cultural

Pois é meu caro Ricardo, como diz o outro: O Haiti é aqui.

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